Federico García Lorca: um escritor universal

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Escrito por Flávia Leite

18 de novembro de 2020

Federico García Lorca foi escritor, poeta e dramaturgo espanhol. Nasceu em Fuentes Vaqueros, em Granada, Espanha, no dia 5 de junho de 1898.

Estudou Direito, Filosofia e Letras, todavia seu interesse sempre foi a música e a literatura.

Aliás, a música sempre fez parte de sua vida, desde menino, quando começou a ter seus primeiros contatos com sua região, Andaluzia.

Dessa forma, todos os aspectos desta cultura passaram a exercer forte influência em sua obra, especialmente em relação aos ci­ganos, aos judeus, aos negros, ao modo de falar do povo, ao seu próprio ambiente, ou seja, todo o espírito andaluz está refletido em sua obra.

Sua primeira publicação ocorreu quando García Lorca contava com 20 anos, intitulada Impresiones y Paisajes, em 1918.

No ano seguinte, muda-se para Madri. Na capital espanhola, morou na Residência dos Estudantes e, dessa forma, teve a oportunidade de conhecer vários artistas, além de ter seu talento reconhecido.

Em 22 de março de 1920, estreou no teatro com a peça O Malefício da Mariposa. No ano seguinte, 1921, publicou Livro de Poemas.

Em 1924, em Madri, conhece vários artistas e in­telectuais renomados, entre eles Gregório Martínez Sierra, diretor do Teatro Eslavo e famoso dra­maturgo. Este encontro teve grande importância na carreira teatral de Lorca.

Na mesma época foi apresentado a Pablo Neruda, Salvador Dali e ao cineasta Luis Buñuel. Além de se tornaram amigos inseparáveis, marcaram demais a vida e a produção literária de Lorca.

Em Nova York, onde morou por algum tempo, escreveu poemas que só foram publicados após sua morte.

Novamente em Espanha, ano de 1931, criou e dirigiu a companhia teatral La Barraca, encenando autores clássicos espanhóis, como Lope de Vega e Cervantes A companhia percorreu diversas aldeias do país.

A carreira teatral de Lorca deu-se início com a estreia de Mariana Pineda, em Barcelona, no dia 24 de junho de 1927.

Em 1934, já era considerado um dos mais famosos poetas e dramaturgos espanhóis.

Todavia, em 1936, no auge de sua produção literária, o poeta foi assassinado em Granada, na madrugada do dia 19 de agosto de 1936. 

Escritor universal

Federico García Lorca é um dos maiores representantes da literatura de língua espanhola do século XX.

Alguns estudiosos consideram o teatro de Lorca universal, não somente pelos temas, propriamente ditos, mas pela forma com a qual o autor trabalha com eles, especialmente, em relação à simbologia, tão compacta e consistente aliada à sua intensidade dramática.

O poeta, ao buscar valorizar as condições da alma, cria uma vertente construtiva e, assim, recria o mundo andaluz.

Dessa forma, a dramaturgia de García Lorca alcança a união entre popular, tradição e vanguarda, além de dar material de reflexão, especialmente sobre o universo feminino.

A concepção literária

A criação literária de García Lorca se faz inicialmente pela expressão oral, como um jogral. Antes de publicar seus trabalhos, o poeta lê, recita, interpreta seus versos e suas peças teatrais aos amigos, de maneira a fazer com eles os conheçam, antes de serem levados à publicação.

Estudiosos de sua obra apontam Lorca como um verdadeiro e original artista de teatro, primeiro pela presença de elementos poéticos que revelam a inquietação do artista, de maneira que o teatro e a poesia não se afastam na sua obra, pelo contrário, tornam-se indissociáveis.

Isso faz de seu teatro não somente o da representação de personagens, mas também de símbolos vivos.

O poeta não oferece ao seu leitor uma realidade, e, sim, um código para ser decifrado individualmente. Cada um interpreta a simbologia da obra de Lorca à  sua maneira, conforme sua concepção de mundo.

Principais obras

Poesia

  • Livro de Poemas – 1921
  • Ode a Salvador Dalí – 1926
  • Canciones (1921-24) – 1927
  • Romancero gitano (1924-27) – 1928

Teatro

  • Assim que passarem cinco anos – Lenda do tempo – 1931
  • Bodas de Sangue (Trilogia) – 1933
  • Yerma (Trilogia) – 1934
  • A Casa de Bernarda Alba (Trilogia) – 1936

Morte

Na madrugada do dia 19 de agosto de 1936,  García Lorca foi assassinado na cidade de Granada por ordem escrita de oficiais da ditadura do General Francisco Franco.

O assassinato de Lorca foi clandestino e criminoso. O poeta foi arrastado e fuzilado numa estrada nas proximidades de Viznar, município espanhol pertencente à província de Granada, na comunidade da Andaluzia. Seu corpo jamais foi encontrado.

Dias antes, seu cunhado, Manuel Fernández-Montesinos, já havia sido fuzilado junto a outros prisioneiros.

As circunstâncias do assassinato de Lorca ficaram sem esclarecimentos, até 1965, quando jornal britânico The Guardian publicou documentos que provavam a autoria e a procedência das ordens superiores para sua morte.

Dois poemas de Federico García Lorca: 

Cantos nuevos  Agosto de 1920 – (Vega de Zujaira)

Dice la tarde: “¡Tengo sed de sombra!”
Dice la luna: “
¡Yo, sed de luceros!”
La fuente cristalina pide labios
y suspira el viento.

Yo tengo sed de aromas y de risas,
sed de cantares nuevos
sin lunas y sin lirios,
y sin amores muertos.

Un cantar de mañana que estremezca
a los remansos quietos
del porvenir. Y llene de esperanza
sus ondas y sus cienos.

Un cantar luminoso y reposado
pleno de pensamiento,
virginal de tristezas y de angustias
y virginal de ensueños.

Cantar sin carne lírica que llene
de risas el silencio
(una bandada de palomas ciegas
lanzadas al misterio).

Cantar que vaya al alma de las cosas
y al alma de los vientos
y que descanse al fin en la alegría
del coraz
ón eterno.

Federico García Lorca, em “Livro de poemas” (1921). no livro ‘Obra poética completa’. [tradução de William Agel de Melo]. Brasília: Editora Universidade de Brasília | São Paulo: Martins Fontes, 1989. Disponível em : http://www.elfikurten.com.br/

Llagas de amor

Esta luz, este fuego que devora.
Este paisaje gris que me rodea.
Este dolor por una sola idea.
Esta angustia de cielo, mundo y hora.

Este llanto de sangre que decora
lira sin pulso ya, lúbrica tea.
Este peso del mar que me golpea.
Este alacr
án que por mi pecho mora.

Son guirnalda de amor, cama de herido,
donde sin sueño, sueño tu presencia
entre las ruinas de mi pecho hundido.

Y aunque busco la cumbre de prudencia,
me da tu corazón valle tendido
con cicuta y pasi
ón de amarga ciencia.

Federico García Lorca, em “Federico García Lorca: Antologia poética”‘. [tradução, seleção e apresentação de William Agel de Melo]. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011. Disponível em: http://www.elfikurten.com.br/

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